Dúvidas e Divagações

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Recentemente ouvi de um profissional em quem costumava até tempos atrás ter muita confiança e cuja opinião era muito valiosa para mim, que "eu deveria deixar de fazer quadrinhos".

Não preciso dizer o quanto isso me abalou e me deixou entristecida, ainda mais vindo de quem veio. Mas como naõ sou daquelas pessoas que simplesmente descartam uma opinião só porque me entristecem, perguntei o porquê.

"Você está muito magoada, com o coração muito pesado. Não vai curtir fazer suas HQ´s e por conseqüência o público também não vai se divertir ao lê-las".

Embora eu tenha respondido a essa pessoa que fazer HQ´s faz parte de mim, que não quero abandonar esse aspecto da minha vida, e que como teimosa que sou, só iria desistir depois de ter dado a última cabeçada na parede -- confesso que fiquei sensibilizada e bem mais insegura. Será que está certo eu estar insistindo nisso? Será que meu trabalho está realmente bom? Será que eu não deveria me afastar mesmo?

Ao mesmo tempo, penso se não é justamente quando estamos com o coração mais pesado que devemos nos ater às coisas importantes para nós. Quando não temos mais nada a perder é que damos tudo o que temos. Ou até mesmo nos envolvemos com mais coisas pra ter com que se ocupar, pra não deixar pensamentos tristes invadirem a cabeça.

Mas que será mais certo? Se agarrar ao que é importante para tentar se salvar... ou reconhecer quando é a hora de se retirar, para não prejudicar a qualidade do que você faz?

Dúvidas... dúvidas... dúvidas intermináveis.

14 Comentários

Wiseman em 11/01/04, às 01:58: Você não deveria ter dúvida quanto a isso, fofa!!!
Se te faz bem, se é importante pra vc, e se SOBRETUDO vc o faz excepcionalmente bem, não tem porque pensar em parar. Se vc não gostasse mais de fazer, então seria outra coisa. Mas mesmo assim eu diria pra continuar tentando!! Se é parte de vc, se é importante, então num pode ser deixado de lado!
^_^ Porque se vc deixar de lado, mesmo que depois consiga se limpar da tristeza, num vai mais ser vc! Além do mais, acho que vc ainda tem muitas histórias pra contar.E tem também algumas q vc já até começou a contar, então tem que terminá-las!!Não se pode sair sem terminar as histórias, lembra ?! ^^~ Espero que vc ache logo a sua resposta, Petrinha! ^^ (Reply)
Tenente escovinha em 11/01/04, às 02:16: Quadrinho no Brasil é um problema. Todo mundo sabe. Os caras armam um esquema, chamam desenhistas e copiam esse ou aquele gênero em voga, sem dar muito valor à qualidade do roteiro, que é a espinha dorsal de qualquer história em quadrinhos. Vide esses lixos publicados no Brasil ultimamente, tipo Holly Avenger.
Vc é desenhista? Deixe um portfóilo no site da DIGITAL ARTIST (procurar sites em português no Google). É uma excelente vitrine para atrair pedidos de trabalho dentro e fora do Brasil. Além disso, funciona. (Reply)
Petra em fase de recolhimento em 11/01/04, às 02:35: Eu não sou desenhista, sou roteirista.... (Reply)
Petra em fase de recolhimento em 11/01/04, às 02:36: E alguns números do "lixo" da Holy Avenger (os especiais) fui eu qeu escrevi... trabalho pra editora Talismã. (Reply)
Tenente escovinha em 11/01/04, às 09:34: Ah! Você é roteirista? Então tenho um recado para você (e muitos outros roteiristas). Minha cara... todos nós sabemos o quanto é pequeno o público quadrinhista no Brasil, mas infelizmente detestamos admitir que pouca coisa é feita (por parte dos produtores e roteiristas) para aumentar esse público. Capas transadas, impressão boa... isso é legal, faz o leitor folhear a revista no jornaleiro, mas não garante que ele a compre. Holly Avenger costuma atrair meus olhares na prateleira, mas quando começo a folheá-la, só encontro motivo para decepção. Essa coisa de tentar copiar mangá, simplificando-o para uma coisa infanto-juvenil-rpg-adolescente-bundal-para jogadores de playstation e Xbox não tem nada de novo ou interessante. A maioria dos escritores de RPG no Brasil lidam com o referido tema de forma estereotipada, superficial e geralmente idiota. Holly Avenger NÃO É EXCEÇÃO. Se fosse, tanto eu, quanto muitos outros folheadores de jornaleiro que, no fundo, adoram quadrinhos, mas nem sempre encontram algo de bom ou original para comprar, seríamos parte da lista de compradores assíduos dessa revista. Holly Avenger é um dos maiores sucessos quadrinhísticos no Brasil dos últimos tempos, mas de que adianta um mérito assim se esse público é tão restrito e cabeça-dura. Se algum dia os autores de RPG e roteiristas de HQ começarem a levar seu trabalho mais a sério, talvez muitos consumidores comecem a fazer o mesmo. Chega de cabeça fechada, minha fente, chega de COMBO, bundaria ou LISANDRA WINS. Tá na hora de vocês mostrarem a sua força, e isso, apesar de todas as minhas críticas, certamente pode acontecer um dia. É só abrir um pouquinho mais essa mente, porque quadrinho e RPG não são video-game, porém meios alternativos de arte e cultura. (Reply)
Jean Ok em 11/01/04, às 09:41: Petra, quando a gente pega pra ler uma edição da revista "Você S.A.", eles sempre dizem que "as empresas querem funcionários que tenham iniciativa e participem das decisões da empresa", mas na vida real é tudo do contrário. As empresas querem funcionários que fiquem na deles e acatem as ordens "superiores" sem abrir o bico. Eu tb já ouvi as coisas que vc ouviu. Tá certo, eu não sou bom exemplo de nada. Mas eu acho que é vc que deve decidir se vai continuar fazendo HQ ou não. Não deixe que ninguém tome essa decisão por vc. Veja se isso é realmente importante pra vc. Eu continuei aqui pq minha vida não teria sentido se eu não pudesse contar histórias. De imediato, não se preocupe em saber se o que vc escreve tem valor ou não, pq nem vc nem ninguém pode saber se o que vc faz tem valor. É a História que vai se encarregar de colocar seu trabalho no devido lugar. Por ora, preocupe-se apenas em escrever sobre o que vc acha importante, sobre o que vc vê e sente. Não dá pra ir muito mais longe do que isso. Como disse Drummond, "Ao escrever, não pense que arrombará as portas do mistério do mundo. Não arrombará nada. Os melhores escritores conseguem apenas reforçá-lo e não exija de si tamanha proeza". Por fim, ter o "coração pesado" não é a medida pra dizer se o que vc escreve diverte o leitor ou não. Primeiro, pq uma história não precisa ser necessariamente divertida. Segundo, pq Chaplin era um sujeito melancólico e isso não o impediu de fazer comédias, assim como Dostoyevski não deixou de ser escritor depois de passar 9 anos preso na Sibéria - onde, evidentemente, ele não deve ter sido feliz. (Reply)
Jean Ok em 11/01/04, às 10:26: Tenente, sem dúvida a questão da qualidade é importante, mas nem de longe é o único problema das HQs nacionais. Tem tb a base de leitores que é pequena e a má distribuição. Outra coisa que me incomoda é a mania de FALAR MUITO e FAZER POUCO. Numa boa, discursos iguais ao seu já escutei aos milhares, e até agora nada mudou. Conheço um monte de gente que tem na ponta da língua a "solução milagrosa" pra salvar os quadrinhos. Mas então por que o "milagre" não acontece? Porque em vez de arregaçarem as mangas e FAZEREM, os "inteligentíssimos salvadores da pátria" ficam "debatendo". A equipe do Marcelo Cassaro chegou lá porque, em vez de perder tempo com picuinhas bobas, resolveu FAZER alguma coisa. Claro que HA não agrada a todo mundo (eu mesmo não gostei da série, não li). Mas não podemos negar que ela tem seu público fiel, e nós simplesmente não fazemos parte dele, só isso. A revista não foi feita pra nós. Então, não adianta ficar mandando cartinhas pro editor pedindo pra ele mudar a revista, porque isso NÃO VAI acontecer. Por que ele deveria aborrecer os leitores fiéis da série, que gostam dela COMO ESTÁ, só pra agradar a um bando de nerds metidos a Arnaldo Jabor? O leitor, como sempre, tem uma arma poderosa em seu poder: quando não gosta da revista, NÃO COMPRA. Simples assim. Se HA não tá legal pra vc, leia outra coisa, ué. A equipe da revista não vai cortar os pulsos pr causa disso. E se vc acha que consegue fazer melhor, faça. Não seja mais um dos que só ficam "debatendo". Porque desses neguinhos "revolucionários" (na opinião deles) o mercado brasileiro tá cheio. Mas até agora só vi revista aparecendo e sumindo, e não vi revolução nenhuma. Quem sabe vc não consegue? Se acha que é capaz, vai lá e faça. (Reply)
Guy em 11/01/04, às 12:17: Nem te conheço mas essa história de mágua ou coração pesado talvez tenha haver com outras coisas que não os HQs e em geral acabam refletindo no nosso trabalho fazendo-nos difíceis de relacionarmos com o profissional.
Creio que ao que parece (mas talvez) o que te disseram pode ter haver com uma dificuldade deles se relacionarem com você devido ao seu estado emocional atual e da maneira como isso está afetando a qualidade do seu trabalho e a maneira como vc o encara. Trabalho não é terapia para ocupar-nos a cabeça e fazermos fazer de conta que não sentimos o que sentimos.
Talvez vc esteja levando tudo a seério de mais já que a vida deve ser vivida com alegria e leveza e não como se fosse um emanranhado de problemas.
O bom mesmo é conversar com as pessoas mas ter em mente que só você é que pode resolver seus problemas sejuam eles pessoais ou profissionais e que (desculpe o termo) o profissional também faz seu mercado!
Faça seu espaço e deixe que os outros digam o querem dizer sem que isso te tire do seu objetivo também. (Reply)
Petra em fase de recolhimento em 11/01/04, às 14:40: Tenente, eu compreendo tudo isso que você e concordo e discordo em alguns pontos.
No entanto, nada disso que você está falando é útil em falar pra mim -- seria se fosse co os editores da Talismã, mas eles recebem cartas como a sua todos so dias. Eu adoraria poder trabalhar com mais gêneros que naõ só esse do mangá (que me atrai muito, mas que sem dúvida é limitante). Gostaria que eles tivessem linhas diferentes e paralelas de quadrinhos dentro do mesmo lugar. Mas infelizmente eu mesma falo isso pros editores de lá há algum tempo e eles dizem que agora não é possível, e que estão investindo no público que já conquistaram, para depois TALVEZ tentar ampliá-lo, mas a reforma se dá aos poucos. O problema é que naõ se muda nada em um ou dois ou três anos. E mesmo que eles estejam fazendo a parte deles, também não sei se a linha que eles adotam será a que eu quero trabalhar para sempre. Talvez eu precise sim me unir a outros projetos em outros lugares, para tentar coisas diferentes. Como disse o Jean, nem toda história é feita para meramente divertir, e esse é o ponto em que eu e esse profissional citado mais discordamos. Ele acha que a HQ tem que ser primariamente diversão -- eu defendo que além de divertir, ela tem que acrescentar algo mais o público, trazer uma mensagem, algo que faça ela pensar na história e não simplesmente guardar ela na cabeça por causa da "gostosura" das personagens femininas. Talvez por isso ele tenha essa opinião tão forte a respeito de mim mais por causa desse lance da "diversão". OU talvez não (se tivesse certeza o tópico não seria "Dúvidas e Divagações". De qualquer forma, justamente porque fazer quadrinho é tão mal pago e é uma profissão tão virtual (ainda mais sendo roteirista) que está mais pra sonho que pra profissão. E eu não sei quando é a hora de se desistir dos sonhos. Guy, o que você diz faz bastante sentido e tenho procurado levar isso à prática. O problema é que esse cmentário veio de uma pessoa que rpaticamente não convive "fisicamente" comigo -- apesar de já ter convivido muito com essa pessoa, atualmente só trocamos e-mails a respeito trabalho. Algumas vezes é difícil receber conselhos de alguém que te conhece há muito tempo justamente porque o conselho não é isento de opiniões pessoais. É daí que vêm as dúvidas -- se podemos confiar no discernimento dessa pessoa ou não... Jean e Wise -- obrigada pelo apoio (Reply)
Thalasyus em 11/01/04, às 22:34: Não desista, Petra. Você tem o talento para fazer roteiros, não deve desperdiçá-lo. Um artista é um profissional que lida com emoções. Sim, ele pode e deve usar seus sentimentos para expressar sua arte. E não só os sentimentos ditos positivos. Por exemplo, um desenhista pode usar a raiva que está sentindo como um combustível de motivação e concentração para desenhar. A tristeza que um ator sente pode servir para levar seu público às lágrimas, etc. O problema é que seus editores dificilmente aceitarão uma HQ que não seja de comédia. Mas imagine se só existissem filmes de comédia nos cinemas! Enfim, Petra, sei que a sua situação está complicada, mas não pare de fazer quadrinhos. Porque cada um nasceu para contribuir com alguma para o mundo, e você certamente veio aqui para contribuir com suas histórias. E também com sua visão sobre o mercado, seu compromisso com a ética e seu engajamento, que são igualmente importantes. (Reply)
Tenente escovinha em 12/01/04, às 01:41: Ao sr. jean carrancudo... E aí, Rapaz! Gostei da sua atitude e num ponto concordo com o senhor: De fato, debates resolvem menos do que ações. Nisso estamos em pleno acordo, mas se a questão de vcs é investir nesse público X, então sugiro que parem de reclamar do mercado restrito, porque o que eu mais tenho lido em blog de rosteiristas de quadrinhos é o quanto certos editores ou grupos bloqueiam seus impulsos criativos, tratando-os como cachorros, impedindo-os de ampliar os horizontes de seus próprios trabalhos.
Como vc disse, não tenho varinha de condão para "resolver" o problema do público restrito das HQs, mas sei que uma das razões para esse problema existir é o grande número de pessoas que vêem quadrinho como coisa de nerd punheteiro, mongol ou pré-adolescente; arte menor, coisa pequena, que um filme do demolidor vale 100 vezes qualquer história publicada dele. Pois é... O chato são os autores de quadrinho que parecem querer reforçar isso em suas publicações, reforçar essa imagem das HQs. Superficializar um tema tão rico para se trabalhar.
Bom... de qualquer jeito, não estou muito a fim de brigar, e, como vc mesmo disse, qualquer esforço é melhor do que nenhum e a revista de vcs, bem ou mal, é a mais vendida por aqui. A questão é... minha crítica não é só para Holly Avenger, mas para 90% do que se faz em matéria de quadrinho e RPG por aqui, sempre direcionado para públicos parecidos. Imagino que nesse momento vc deva estar pensando "Bla, bla, bla, falar é fácil, venha aqui escrever então, mané, em vez de tirar essa onda de crítico, porque criticar é moleza!"
Well... sou roteirista e estou a disposição de vcs para qualquer trabalho (mesmo que me tratem como cachorro - só não faço isso de graça). Se quiserem entrar em contato comigo para futuros projetos, deixem uma mensagem no meu blog com o e-mail de vcs. Eu ficaria muito feliz em fazer parte do time.
Afinal, a revista de vcs não me agrada, mas tem elementos interessantes para se trabalhar. (Reply)
Tenente escovinha em 12/01/04, às 01:43: Sorry, esqueci de deixar website (www.noticiasdofront.blig.ig.com.br) (Reply)
Jean Ok em 12/01/04, às 09:16: Ué, mas eu não tava brigando com vc, Tenente! Se pareceu isso, sorry! Foi só meu jeito de escrever, que é sempre estabanado... Bom de tudo que vc disse acho que só tenho a acrescentar isso: acho que não são os autores que querem reforçar a coisa do coisa gibi pra nerd punheteiro, mongol ou pré-adolescente; é que eles têm de seguir as regras impostas pelas editoras, que exigem que as HQs sejam feitas dessa maneira. Se essa visão deles fosse amparada numa boa pesquisa de mercado, eu concordaria que eles fizessem essas exigências. Mas eles não fazem pesquisa nenhuma, então como sabem qual é o gosto do "leitor médio"? O que achei injusto foi vc vir aqui atacar a Petra como se ela fosse responsável por HA ser o que é. Ela simplesmente fez um trabalho pra editora, que impôs a ela regras e limitações, como qualquer outra editora faria. Eu já li material diferente da Petra (tá certo que foi só um, mas...), e garanto que o que ela mostrou nos especiais de Holy Avenger é só um 1% da capacidade dela. E agora, com licença, que eu vou seguir meu próprio conselho e ir trabalhar! =) (Reply)
Kiki em 12/01/04, às 15:06: Pusta que o pariu, os comentários viraram zona de guerra! ^_^ Que dúvida o que? É nessas horas que a musa tá te inspirando. Muita coisa boa foi feita quando a gente tá "down". Mas pode ser mesmo que sua postura negativa afaste leitores. Então policie-se. ^^ Porque se parar, tu fica pra trás, pára de evoluir. Quem sabe o negócio negro de tua alma faz surgir estórias com humor negro? ^_~ (Reply)

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This page contains a single entry by Petra Tpish published on January 11, 2004 1:23 AM.

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