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parte 1 - parte 2 - parte 3

iv
Klara tinha uma vida normal, até que um dia o mundo ficou bobo. Pena que isto não quer dizer que Klara tenha vivido, ficado mais experiente e o mundo tenha se revelado menos colorido e cheio de novidades do que ela pensava que era quando criança. Antes fosse.
Regra número um de descer barrancos: não use saias. Agora era tarde, estava quente de manhã, ninguém avisou com antecedência que ela ia ser sequestrada. Para adiantar o serviço dos curiosos, Klara avisa que era branca.
Regra número dois: sandálias não prestam para isso. Ok, pego lá em baixo.
Regra número zero: nunca, mas nunca olhe para baixo. Nem precisa falar.
De palmo em palmo ela ia diminuindo a sua distância entre ela e o centro da terra, se afastando verticalmente da casa pseudo-cativeiro e cultivando pequenos machucados nos seus membros. Sorte dela que quando menina não era fresca, aprontava de tudo na visita ao sítio dos avós e tinha know-how de sobra em escalar e descer paredes de pedra. Era só uma questão de desenferrujar os anos e adaptar tudo à um corpo mais alto e mais maduro. O que faz uma menina que era o terror da rua se tornar uma adolescente com cara de pastel?
Adolescer era um renascimento, de repente seu corpo fala que tudo que você aprendeu desde o nascimento não era bem assim, que teria de jogar tudo fora e recomeçar do zero. É um processo traumático de renascimento em que alguns ficam bobos no processo, outros ficam cultivando a tristeza, outros ficam energéticos e Klara ficou escondida na multidão.
Mas não mais, Klara agora estava bem visível para quem estava em baixo do barranco, jogada no ar, uma mancha vermelha brotando no peito de sua camiseta azul, sua vida resignadamente saindo do corpo. Ela nunca tinha se perguntado como seu corpo lhe informaria uma bala perfurando seu coração. Viveria muito bem sem saber disso.

つづく

"- Filha, já se trocou? - a cabeça de sua mãe aparece pelo vão da escada, acrecentando mais susto à uma menina que encontrou o senhor dos sonhos de mau-humor.
- AAAAI!! ...atchim! N-não, mã.
Em dois tempos, Klara-mãe estava do lado da cama, separando a filha do amontoado de bichos felpudos.
- Eu duvidava que sim... e ainda está com os cabeli molhada... e febril! Prega! Tu nunca me obedece!!
- Atchim! Atchim! Excuso, mãe.
- Fica quieta e não me deixa o calorímetro cair. A mãe de Klara tinha o dom de ignorar os princípios básicos da física quando o assunto era a saúde da filha ou do esposo. Moveu-se mais rápido que a luz da escada até a cama da menina quando algum instinto ancestral notou algo de errado, e no instante seguinte à constatação da febre fez brotar do nada termômetro, xaropes, comprimidos e uma toalha seca para concluir o serviço inacabado de retirar o excesso de água dos loiros cabelos da filha. Já esta aquietou-se - meio por estar encabulada com a bronca da mãe, meio por ainda por sua alma vibrar na frequência dos ecos do seu sonho ruim - e deixou a mãe terminar de enxugar seus cabelos e troca-la com roupas mais secas, passiva como se fosse uma boneca de pano.
- Tu está um dedinho de quente, mas não é febre ainda. Abra a boca.
- Ah, o de pinguinho não, é malíssimo.
- Só pus vinte pingui na água, Klara! Bebe zinha e não faz carauta!
- (Glub, glub) - ela bebe como se a água fosse dissolver seus dentes - Blergh!!
- Tu é mui exagerata, filha!
- Então bebe tu os pingui, mã!
- Não sou eu quem está a ficar febril, e não quero ter gosto azio na boca pelo resto do dia.
- (Eca, eca!) Finória! Tu sabia que eu não estava exagerando!! Klara diz fazendo cara de azedo enquanto a mãe sorri achando graça da sua criança, penteando os cabelos dela ritmadamente, que fazem a menina se distrair da realidade e se voltar mais e mais aos seus pensamentos, mesclando em seu ser o gosto amargo do remédio com o ruído de fundo do pesadelo. [...]
- E papae?
- Na capa. Acredita que vai fazer grande comércio com aqueli estrangeiri, mas faz para mim que eles não vão comprar nada não, se muito umas moedinhi velha. Agora finite de se trocar para cearmos, fiz macarronada hoje.
- Nham! Vivo de macarronada, já estou lambendo os beici!! E de pospasto?
- Pudim de leite. Do jeito que tu gosta.
- Nham! Nham!
"


Mushi-san pesquisa: um livro com a maioria dos diálogos escritos nesse estilo seria cansativo? Ininteligível? Dá noção de um lugar diferente?
Grato ^^

1º concurso Literatura para todos

"Os livros deverão ser inéditos e podem se encaixar nas modalidades conto ou novela; crônica; poesia; biografia ou relato de viagem; ensaio ou reportagem; textos da tradição oral; esquetes, scripts, peças teatrais, roteiros de vídeo, cinema, quadrinhos; ou textos utilizando linguagem das Tecnologias de Informação e Comunicação (e-mails, blogs, comunidades virtuais, grupos de discussão, etc.)"

Eu ia postar isto no fórum (não sei se alguém já postou lá), mas taí. Edital, mais informações aqui

Boa sorte a quem for participar! Sei que tem muita gente talentosa aqui!

"Vazio.

Abandonado, solto no espaço. Ar para um dia e meio de existência.
Era muito tempo.

Tinha decidido ficar de olhos fechados - abrir eles era indiferente, estava no meio do Vácuo de Virgem, não havia uma estrela em mais de cem milhões de anos luz. Nem luz pra dizer quantos anos demorou pra chegar onde ele estava. Então, pra quê o esforço de separar uma pálpebra da outra?

Estava dando voltas em torno do seu próprio eixo, supunha. Com braços e pernas abertas, deveria estar parecendo uma estrela do mar boiando no meio do nada... E riu da ironia de assim ser a única estrela num raio de porrilhões de quilômetros. Uma estrela com rotação em torno do próprio umbigo.

Logo o riso morreu num largo sorriso que foi mantido até dar cãibras nas bochechas. Ele ainda teimava em manter os olhos fechados, e estava indecido de como gastar as suas últimas trinta e tantas horas até ser apagado do Reino dos Vivos e existir apenas nas memórias de Deus.

Mas estava sem ânimo pra qualquer coisa."


Um continho sem sentido aleatório fora de época pra vocês.

Céu azul a semana toda ^^
Sol insistindo em brilhar :)

Até que reapareceu nuvenzinha saudosa.
Assopro, assopro pra sair da frente do sol.

Teimosa, né?

Este é o quarto e último capítulo de um texto que se propunha a ser um guia do

O INFERNO

A idéia deste texto é dar a descrição de localidades criadas nestes três mil anos de literatura ocidental para aqueles que gostam de escrever contos e roteiros e não tem acesso (ou saco) para consultar as fontes originais e conseguir a referência ou inspiração necessária. O primeiro local a ser visitado é

O INFERNO
(parte 3)

A idéia deste texto é dar a descrição de localidades criadas nestes três mil anos de literatura ocidental para aqueles que gostam de escrever contos e roteiros e não tem acesso (ou saco) para consultar as fontes originais e conseguir a referência ou inspiração necessária. O primeiro local a ser visitado é

O INFERNO
(parte 2)

PER ME SI VA NELLA CITTÀ DOLENTE PER ME SI VA NELL'ETTERNO DOLORE, PER ME SI VA TRA LA PERDUTA GENTE. GIUSTIZIA MOSSO IL MIO ALTO FATTORE: FECEMI LA DIVINA POTESTADE, LA SOMMA SAPIENZA E'L PRIMO AMORE. DINANZI A ME NON FUOR COSE CREATE SE NON ETTERNE, E IO ETTERNA DURO.

LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE

A idéia deste texto (que foi dividido em alguns capítulos) é dar a descrição de localidades criadas nestes três mil anos de literatura ocidental para aqueles que gostam de escrever contos e roteiros e não tem acesso (ou saco) para consultar as fontes originais e conseguir a referência ou inspiração necessária. O primeiro local a ser visitado é a estadia final para os piores dentre os mortais, habitat de bestas, demônios e criaturas inferiores das mais diversas, é o pesadelo dos seres humanos há milênio s, conhecido como Sheol, Geena, Hades, Tártaro, el Sakar, Naraka, Niraya e, principalmente, como

O INFERNO

Duas sombras
ex-irmãs
Que por janelas
se olhavam

(Escondidas.
uma da outra)

A mais velha sabia
da mais nova toca
da mais nova

A mais nova visitava
a velha toca que habitara
com a mais velha

(visitas ocultas
rastros evitados.
Na teia porém
tudo deixa marcas)

E ambas as sombras
Nunca vão se encontrar
Nunca vão se conversar
Já que

A mais velha:
machucada e decepcionada.
A mais nova:
medrosa e imatura.

(E só resta o silêncio
O passeio do rato
Os olhos curiosos
olhando as janelas)


Greve provavelmente encerra na assembléia de quarta. Assim, talvez eu volte ao normal ^^"

RELÍQUIA ROUBADA!!

TURIM AMANHECE SEM O SANTO SUDÁRIO!!

UM MÊS DEPOIS, POLÍCIA ITALIANA NÃO TEM PISTAS DOS LADRÕES.

MILHÕES PAGOS E NADA DE RELÍQUIA DE VOLTA.

PRESOS FALSOS SEQUESTRADORES.

O mais alto:
- Perfeito. Quase dez meses desde o roubo e a polícia italiana, a Interpol e a CIA estão andando em círculos sem pista alguma sobre nós.
O mais baixo:
- E esse bolo de chocolate que a mãe de Maria fez está muito bom.
- Come logo, não vão deixar entrar com isso.
- Não vão deixar entrar com um bolo, mas você tava inventando de por vários bichos em volta.
- Estava querendo deixar o mais próximo possível da primeira vez...
- Nem acredito que vai ser hoje o dia!!
- E é dezembro! Mais uns dias e o nascimento seria no Natal!
- Pena que o céu de São Paulo é sempre nublado. Se aparecer alguma estrela no céu, a gente não vai ver -_-
- Na verdade o tempo aqui nessa época do ano é relativamente quente, não é o inferno que é na tua cidade, mas faz sol. Essas nuvens no céu é que são incomuns.
- São Paulo tem sol? Pensei que fosse um holofote...
- Hmpf! Cariocas.
- Essas nuvens no céu... as vezes acho que é algum sinal. Será que estamos fazendo a coisa certa?
- Claro que estamos!! Não está tudo dando certo até agora? Até uma virgem achamos nessa cidade!! Clonar é fácil, remontar e separar material genético de linho, poeira e outras impurezas é bico. Achar uma moça que não tenha caído nas tentações da carne hoje em dia é que é milagre!
- Pena que ela seja tão novinha, nem dezessete... pronto, terminei o bolo.
- Tava com cara de bom.
- E ela ficou bonitinha de barriga.
- Sim, ela era bonita
- Se eu fosse 20 anos mais novo...
- Mas, aquelas roupas!
- É adolescente, poxa.
- E o piercing? Ela não percebe o papel que vai representar ao mundo a partir de hoje?
- Acho que percebeu sim. Mas até hoje acho que a mãe dela percebeu demais os dólares que pagamos...
- Nem tudo é perfeito. Só quem está para nascer de novo é.
Uma mulher abre a porta de repente:
- Nasceu!
- Chamem os magos! Chamem os magos!
- É menina.
= QUÊ!?!
- Mas, mas, mas.... E o ultrassom??
- Acontece do cordão umbilical ficar entre as pernas...
- Melou tudo...
- Puta que pariu!!
- Mas ela é virgem....
- Dasdjlafj ghsdgknmaskasd!!!!
- E agora??

SANTO SUDÁRIO É DEVOLVIDO!

RELÍQUIA É DEVOLVIDA PRATICAMENTE INTACTA!

NÃO HÁ PISTAS DOS LADRÕES, EXCETO POR INSCRIÇÕES NO VERSO DO TECIDO.

FILÓLOGOS ITALIANOS TENTAM DECIFRAR O SIGNIFICADO DAS INSCRIÇÕES DO SUDÁRIO.

"MÓ PAIA" E "É CAÔ" SÃO O NOVO GRANDE ENIGMA DA HUMANIDADE.

E Maria batizou a filha com nome de cantora da moda. Ou atriz de novela. Ou os dois, sei lá. Casou, está feliz da vida e espera gêmeos do noivo. Budista.
Já seus pais aguardam ansiosamente descobrir se algum dia a neta vai transformar água em vinho. "Ou pinga, caipirinha é tudo de bom."


Notas do culpado por este texto: Pra mim indifere se o Sudário é verdadeiro ou não. Seria mais interessante se fosse, mas se não for, não mexe na minha Fé :P
"perco o amigo, mas não perco a piada"

Algum tempo atrás anunciaram que alguns malucos pretendiam fazer justamente o tema do conto. Medo. E sábado fui ver O Enviado com umas amigas, filme ruim (dá seus sustos), só "salva" nele o fato de que me desenterrou algumas idéias que pus acima^^

- O que foi que a filha fez??
- Xixi.
- Em cima to túmulo?
- É.
- Do pai?
- Exato.
- Deus do céu...
- Não põe Deus no rolo, Ele tem nada a ver.
- Mas ele era um bom homem...
- "O Inferno está cheio de boas intenções"
- Mas ele....
- Vendeu as filhas. A mais nova morreu de uma doença de nome tão feio tenho até vergonha de falar.
- Meu De....
- Psiu! Já disse pra não dizer o Santo Nome em vão. Não por causa dele.
Eles andam mais alguns passos por entre as ruínas. Era a pausa para almoço dos operários, mais meia hora e a demolição iria

recomeçar. Pensavam no ocorrido uma década atrás enquanto o cascalho rangia reclamando do peso das botas.
- E o mais velho? Alguma notícia?
- Sim, tenho todas as notícias do mundo sobre ele, pena que nenhuma delas combinem entre si ou com a realidade e... acho que

nessa mesa tá bom, não?
- Acho que sim. Quer o alicate?
- Quero, está bem trancada e enferrujada.
(algum esforço e expectativa, e a mala é aberta)
- ...dinheiro.
- Milhões e milhões... de cruzeiros reais.
- Perdidos atrás do guarda roupa.
- Devia ser uma fortuna na época.
- Custou a vida da mulher.
- E a alma dele.
- Hã?
- Pacto.
- Ah... era um bom homem...


Juro que fiquei na dúvida se estivaca o texto ou colocava assim mesmo, esticar demais dilui, quebra o mistério e a graça junto. Por outro lado, errar o "ponto de corte" e encerrar a idéia precocemente é um risco também. To com medo que esse tenha sido o meu caso, mas, já postei. O texto está aqui para ser malhado e xingado mesmo =P
E o caso do lotérico que faliu pq perdeu uma grande quantia de dinheiro, que foi encontrado anos depois, detrás de um armário, na demolição do estabelecimento existe. Ou ao menos é o que me contaram ^^
PS: Inutilia truncat.

Hare Krishna
Hare Krishna
Krishna Krishna
Hare Hare
Hare Rama
Hare Rama
Rama Rama
Hare Ha...
Os religiosos se calam e abrem caminho para o sujeito: ele era mau e exalava malignidade. E poder, muito poder. Isso estava em negrito em sua aura.
E seu sangue ebulia: o dia começou errado. Ninguém merece internet fora do ar logo de manhã. Ficar insistindo por duas horas seguidas uma maldita conexão de merda que não parava de cair para no fim das contas não ver ela online. Beber café gelado por que esqueceu de tomar quando estava fresco por causa de algum imbecil que decidiu mexer em alguma porra de cabo em alguma merda de lugar e fez minha conexão sequer conectar. Merda.
Aaaaah, pq eu deixo esse mundo viver? Ele não é como eu quero! - Sua respiração era pesada e quente como uma fornalha - Tenho poder para ferrar com tudo, vou junto, mas acabo com essa porra de planeta. MALDITO TÉCNICO DE TELEFONIA, eu te pego!! Não, levo tudo mesmo. Tá na hora de fazer o que nasci para fazer: acabar com tudo - seus passos eram como se para espantar a esperança pousada no ombro das pessoas. Mas eles acabaram: estava parado no meio da avenida. Uma multidão de trauseuntes passavam por ele sem se dar conta que um dos pilares do fim do mundo estava entre eles. A Terra acabaria por causa de um motivo imbecil. Bem, tava na cara que ia ser assim...

No céu, os anjos da guarda se perguntavam quem dormiu no ponto e deixou isso acontecer. Quase trinta anos de zelos, mimos e cuidados para não irritar a fera indo por água a baixo. Eles até tavam pegando o jeito de deixar ele contente... foi uma alegria no céu quando descobriram que nasceu menino e não menina: "ao menos não vamos nos preocupar com crises de TPM" "ah, claro, testosterona circulando entre suas hemácias e você acha que..." "VIRA ESSA BOCA PRA LÁ!"

Olhos fechados no meio da rua. Seu coração batia fazendo a contagem regressiva para a detonação. Nada restaria, tudo seria consumido. O ar saia ruidoso dos seus pulmões. Abriu os olhos. Só precisava de um motivo.

- O teu troco, moço. Quer uma pazinha?
- Quero.
Chocolate. O meu preferido.
Ai de vós, mundo, se os sorveteiros entrarem em greve.

amen.


Conto saiu passeando na paulista, quando apareceram os Hare Khrishna. A divindade deve alguns reais pra Petra, mas ao menos me rendeu alguma coisa pra contar aqui. Espero que preste =p

(e o que o calor não faz com a cabeça da gente.... saudades da banquinha da Yopa no metrô carrão =9)

Decifrar. O mais rápido possível antes de ser devorado.

Estava eu no Templo do Consumo, pensando em Beatriz (morta), admirando o panteão escancaradamente exposto em suas vitrines, colorido e efêmero, com seus hinos, totens e imagens, quando a deusa apareceu, olhos amendoados, longos cabelos negros, envolta em flamas douradas.
Em suas mãos, a garrafa. Grande, simples, com alça, feita de um vidro prateado-escuro e tapada por uma velha rolha de cortiça. "É isso o que você deseja, não?"
Ela me entrega e ergo a garrafa contra a luz fluorescente. Os trauseuntes parecem não nos notar. Dentro, está Beatriz, sem rosto, olhos e um sorriso rabiscado em lápis de cor. Vestido vermelho, com asas de plástico cor de rosa presas em suas costas. Ela parecia pateticamente feliz.
- Não desejo mais. Beatriz não existe mais no mundo, isso aqui não é mais ela. Fez a escolha errada e perdeu-se na garrafa, jogou fora conscientemente tudo o que tinha em troca do maior desejo dela. Agora está aí, deturpada, presa onde não vai querer sair, até que pare de respirar. É uma troca que não vale a pena, não vou querer essa garrafa como ela quis.
- Bonito discurso.
- Eu decorei.
- E o que farei com a garrafa e seu conteúdo?
- O que tem de ser feito.
Uma lágrima correu alguns milimetros antes de evaporar no rosto dela. Meu coração estava pesado, e de repente o ar invadido por uma nota cantada por um coro de vozes invisíveis. Luz. Calor. Chamas. E a garrafa era consumida com seu conteúdo até o último átomo. E as vozes se calaram.
- Bem clichê...
- É para ser solene, não inovador. Ainda mais aqui, onde todos acham que são exclusivos, mas procuram atender seus desejos feitos em série, fabricados em linha de montagem, pagos com o suor de uma vida milimetricamente rotineira. Acreditam terem prazeres e problemas únicos, mas quase tudo o que sentiram, passaram e fizeram é praticamente remake de um filme antigo com atores novos e acrescimo de efeitos especiais.
- Belo discurso.
- Foi você quem começou. E agora, o que você vai fazer?
Uma faxineira passa entre nós e varre as últimas cinzas.
- Te convidar para o cinema. Aceita?
Seu rosto é indecifrável. Achava que não ia gostar, mas no fim, parecia que ela achou algo engraçado na situação.
- Quando eu estiver desocupada - E desapareceu nas próprias chamas, mostrando a língua marotamente.
- E isso vai ser nunca, pelo jeito...

Fim.


Podem malhar o texto a vontade, ele está aqui pra isso^^. Tive a idéia básica quando passei no shop Tatuapé. Juntei algumas anotações antigas, mostrei o total para algumas testemunhas para ver se era apto pro consumo humano e guardei na geladeira. Capaz eu desenhar =P

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