Estou preparando a resenha de Todas As Aventuras Marvel e lembrei que durante a leitura voltei a acarinhas outro projetinho bobo de por aqui no blog textos que saíram em gibis. Por anos publiquei aqui cada artigo do Dicionário Marvel: encontrei scans, passei por OCR (reconhecimento óptico de caracteres, para transcrever o texto), revisei e publiquei.
Esse projeto eu já tinha terminado faz um tempo, mas sempre pensei em fazer o mesmo com os textos que saíram na centésima edição de Capitão América e Heróis da TV, clássicos gibis da era Abril (publicados respectivamente em setembro e outubro de 1987). Foram edições comemorativas com mais páginas, a primeira história de algum personagem, mais uma HQ contemporânea, tudo isso introduzido por um texto supostamente do Stan Lee.
E serão estes textos que colocarei aqui, na forma que foram apresentados. Não sei a fonte e a autenticidade deles, mas sei que tem informações que batem com outros textos e entrevistas.
Para quem não sabe, a Marvel Comics nem sempre se chamou Marvel Comics. Quando comecei a trabalhar lá, em 1939, o nome era Timely Comics. Nunca soube por quê. Eles sempre me mantinham tão ocupado que nunca tive tempo pra perguntar, e eu já estava lá há vinte e dois anos. O ano era 1961. Nesse meio tempo, a National Comics (futura DC) continuava produzindo Super-Homem, Batman e outros super-heróis. O grupo Archie, como de costume, publicava Archie, Jughead e seus divertidos amigos. A Harvey Publications estava se mantendo com o fantasma Gasparzinho e seu inconstante grupo. Nós continuávamos publicando histórias de monstros. Existiam quadrinhos às centenas, mas tudo continuava como antes, sem mudanças.
Mais ou menos nessa época, eu tive uma conversa com minha esposa. Não que houvesse algo de estranho nisso — nós conversamos frequentemente um com o outro. Mas, dessa vez, Joan me perguntou por que nunca dediquei o mesmo esforço e talento às histórias em quadrinhos como dedicava às minhas atividades de free-lancer, ou seja, matérias para tevê, jornais, etc. O fato é que sempre imaginei meu trabalho nas revistas em quadrinhos como algo temporário. Mas a observação dela me fez despertar. Ora, já era tempo de começar a me concentrar no que estava fazendo, trilhar uma carreira no mundo dos quadrinhos! Nem bem a encantadora Senhora Lee me havia feito tomar aquela importante decisão e lá estava eu falando com meu editor Martin Goodman. Ele mencionou que uma das revistas da National Comics parecia estar vendendo mais que as outras. Tratava-se da “The Justice League of America” (A LIGA DA JUSTIÇA), e era composta por vários super-heróis. “Se a LIGA DA JUSTIÇA está vendendo” — disse ele —, “por que não lançamos uma revista semelhante?”. Sua lógica parecia irrefutável.
Joan queria que eu realizasse algo importante no campo dos quadrinhos. A época era perfeita. Os elementos estavam todos à mão. Era o destino!
Naturalmente, escolhi Jack Kirby pra desenhar a nova revista de super-heróis que, em breve, produziríamos. Ele era ótimo nisso. Os personagens seriam do tipo comum, com fraquezas e defeitos, de carne e osso. À primeira coisa que me veio à mente foi a relação de amor. Teríamos um herói e uma heroína que eram noivos. Pouco a pouco, tudo tomou forma. Haveria o líder do grupo e sua namorada. Ela teria um irmão mais novo (não tão novo!), com o qual os leitores se identificariam. Os jovens companheiros dos super-heróis sempre me irritaram. Além disso, um verdadeiro super não deve andar acompanhado de adolescentes sardentos, pois as pessoas logo começariam a falar... De qualquer forma, achei que deveria haver mais um membro. Um personagem dramático, patético, com raras qualidades, feio, moroso e totalmente anti-social. Com todos esses requisitos, ele se tornaria o mais popular de todos.
Depois de discutir o projeto com Martin e Jack, decidi chamar o grupo de QUARTETO FANTÁSTICO. O resto é história.
Nos meses que se seguiram, os trabalhos foram se tornando mais e mais refinados e detalhados. Os personagens se tornaram mais definidos e os toques de sátira que a Marvel introduziu no gênero de super-heróis ficaram cada vez mais aparentes.
Mas, mesmo na primeira aparição do QUARTETO FANTÁSTICO, você poderá ver a prova da qualidade invulgar, a interpretação criativa e o distanciamento do estilo de todas as histórias editadas anteriormente. Continue lendo, ó fiel leitor! Que este pequeno mas polpudo pedaço de história viva possa servir de alimento a teus famintos e atemorizados olhos!
Histórias apresentadas nessa edição: Fantastic Four #1 (11/1961) e Fantastic Four #239 (02/1982)
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