Um dos grandes dogmas do Universo, daqueles capazes de destruir todo o continuun caso não ocorra, é o meu resfriado anual.

Não estranhem: Eu tenho pequenos resfriados daqueles simplezinhos, que podem ser burlados com algumas gotas de Novalgina e um lenço. Mas, pelo menos uma vez por ano, eu tenho O resfriado, daqueles que me fazem ficar vários dias de cama, passando por todo tipo de situações, que vão de frio extremo a calor sufocante. As vezes, tudo ao mesmo tempo.

Lá pelo segundo dia, quando já se foram dois rolos de papel higiênico, quando tudo o que eu consigo fazer é dormir, com pequenos períodos de consciência (períodos regados a dor de cabeça, mal humor, e enjôos...). E, durante esses períodos de sono, tudo o que eu consigo fazer é alucinar. Em volta da minha cama, sou visitado por um verdadeiro "Who's Who" do meu subconsciente. Alguns, me pedem para melhorar. Outros, apenas ficam lá, como se não soubessem o que fazer. Uns outros tantos, parecem gargalhar da minha situação. Algumas vezes eu acordo tentando alcançar alguma coisa, outras, me pego conversando com alguém. Mas, mesmo quando eu só encontro gente debochando da minha situação em meus delírios, eu só consigo acordar sentindo vontade de melhorar. Algumas vezes, arrisco sentar na frente do computador e continuar minha vida. Tudo o que consigo é ver letras dançando e um enjôo que me faz voltar pra cama.

O estômago parece ter toda sua estrutura redefinida, fazendo com que a comida ingerida fique num eterno vai-e-vem, com pequenas incursões à minha garganta. Todo tipo de pensamento escatológico passa pela minha cabeça nesses períodos. Mas ainda tento manter minha dignidade. E a comida no estômago.

Com um pouco de sorte, eu consigo sobreviver a toda essa provação sem precisar ir até um hospital, tendo apenas que trocar a roupa de cama empapada de suor, e limpar o meu quarto. Algumas vezes, como no ano passado, tenho que ser levado as pressas pro hospital, para que me entupam de medicamentos e ficar em observação. Até hoje, não me ocorre qualquer ano em que eu tenha morrido.

Sobrevivo. Algumas vezes, com uma percepção diferente da vida. Outras, eu me sinto impelido a procurar aqueles amigos com quem não converso a muito tempo e colocar o papo em dia. Mas, independente de como eu me sinta depois de toda a crise, eu só consigo pensar em como estou aproveitando mal minha vida, e nas coisas que deixo de fazer por pura preguiça...... Afinal, nunca se sabe o ano em que o resfriado definitivo vai chegar....