"Resenhas" rápidas: Yeshua Absoluto

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Yeshua Absoluto (de Laudo Ferreira Jr. e Omar Viñole) - Adaptação em quadrinhos da vida de um cara lá de Nazaré. Gibizão nacional, um tijolo de capa dura com trocentas páginas em preto e branco - inclusive dei "oi" pro autor numa FIQ, pena que eu não tava com o tijolo comigo para pedir um autógrafo... -, com traço que tende ao caricato, um acerto perfeito esta história, que não é ipsis litteris aos relatos dos evangelhos.
Para alguém que anda lendo, relendo e virando do avesso os quatro textos canônicos é legal ver as pequenas alterações que o autor colocou pra fazer a história funcionar como tal, fora inclusões que devem ter vindo de outras fontes tradicionais (inclusive o gibi começa com a narração da concepção de Maria Miriam, que eu nunca tinha lido :P) e apócrifas. Laudo faz recriações bem engenhosas e críveis de várias passagens e vários dos personagens que são quase que planos no Novo Testamento ganham personalidade e temperamento bem distintos, e também muito bem encaixados no contexto e até no canon (ainda mais considerando a pouca informação dada nos textos oficiais :P)
Por exemplo, Pedro Shimon (esqueci de dizer: todos os nomes tradicionais foram substituídos por mais próximas do original) é pai de família, cético, pé no chão, irascível. Mateus Matitiyahu é um cobrador de impostos meio bonachão, mas, mesmo com poucas cenas você percebe o fdp que ele é/foi (cobrador de impostos, né?) por trás daquele sorriso fofo. Judas Yehudah (o Iscariotes, não o Tadeu) mal chega e já mostra pro leitor o tipo de mentalidade e background que o farão ser o judas da história: o cara bem intencionado, e cheio de falhas, que acha que joga grande e só depois vê que foi persuadido por jogador mais calejado e fez merda. Outro personagem que tá bem retratado é João Yohanán (o Batista).... afinal, era um tipo meio doido pregando no deserto. E é a primeira vez que vejo JC e JB se tratando como os parentes que Lucas diz que são. Outro personagem que achei bem caracterizado é Pilatos Pilatus, mais pragmático e menos mocinho que nos quatro evangelhos - provavelmente mais próximo das fontes históricas da época ;p
Voltando a falar em fontes apócrifas, deu para perceber que o roteiro tem muita influencia dos textos gnósticos da época - e pelo jeito terei de ler esse material :P Isso se reflete muito em Maria Madalena Miriam Magdalit (personagem que cresce bastante, e de forma desconhecida para quem só leu a Bíblia), desconfio que material fora do cânon foi fonte das cenas da esposa de Pilatus (ela tem um versículo em Mateus e ganha páginas e páginas no gibi :P) e tem umas mensagens nos diálogos que deixariam alguns puristas de cabelo em pé e que certamente vieram destes textos "aliens" :P Outro ponto de nota é que os milagres são narrados de forma bem discreta, alguns são descritos como fatos corriqueiros que foram tomados como sobrenaturais, como por exemplo o exorcismo de Legião e, talvez, a Multiplicação dos Pães. E ao menos um milagre fica bem em aberto (evito spoilers :P) se foi ou não.
O arco da Natividade está legal, com uma reinterpretação quase completa das cenas relacionadas aos Magos e mais pra frente Herodes Hordus filho lembra o que o pai aprontou para evitar a chegada do Messias x) E a construção política que levou Jesus Yeshua ao calvário tá muito bem feita, inclusive encaixando alguns das atitudes dEle em Jerusalém Yerushalaim na progressão dos fatos.
E, para encerrar, também achei foda Ele errando, vendo que fez errado e pedindo desculpas, o que só engrandece o personagem (e qualquer pessoa).

# Veredicto: uma das melhores leituras desse ano.
# Bom: o traço caricato e extremamente expressivo, a recriação bem redonda dos fatos, os personagens estão bem construídos em cima do que sabemos deles.
# Mau: Sinto muita falta de notas de rodapé mostrando de onde o roteirista catou algumas passagens e o que ele tirou da própria cabeça :P Também fizeram falta algumas passagens que talvez dessem capítulos legais (Bodas de Caná, o Discipulo Amado) e em vários diálogos os personagens vivem citando que Jesus carrega multidões e tal, mas você não tem esse feeling na história, visualmente o grupo é ele e os poucos de sempre. Yeshua é um gibi caro, mas vale cada lépton investido.
548 páginas • R$ 140,00 • 2016 • veja no site da editora


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